sábado, 17 de outubro de 2009

CORDEL


PRIMEIRA VIAGEM

Junto ao toco da porteira
eu guardei o meu segredo,
sob a sombra da paineira
escrevi o meu enredo.
Era curva de caminho,
sobre a grama fiz meu ninho,
ali tive a vez primeira.

Os beijos sem endereço,
um fungado em nossa orelha
- sem ter tempo, reconheço .
Gemendo, o berro da ovelha
traça a medida da dor
da vergonha sem pudor
que é sentida no começo.

A nossa primeira viagem,
como curva de caminho,
a gente não vê paisagem
também não se faz carinho.
Matéria prima de pedra,
qualquer coisa a gente medra,
qualquer espaço é barragem.

Fica a mancha da saudade
de uma etapa assim queimada
na faminta puberdade
de um fazer de um quase nada.
Se o tempo pra nós voltasse
e de novo a gente amasse
eu dobrava a madrugada.

O vento escrevendo as cores,
a brisa parando o tempo,
entre beijos e clamores
sem medo e sem contratempo,
suspirando a vez primeira,
degustando a derradeira
sem ter culpa nem pudores.

Feita em sonhos, a saudade
costura um fio de esperança
- lá da roça pra cidade
como se fosse criança.
Juntam mundos em segundos,
num cruzamento, fecundos,
pra dar cria a uma vontade.

A primeira viagem dói,
deixa marca em nossa vida,
muita coisa ela destrói,
faz buraco, faz ferida
puxando nosso pensar,
fazendo a gente voltar
para uma etapa perdida.

Dáguima Verônica de Oliveira

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