terça-feira, 1 de setembro de 2009

O VELHO CARRO DE BOI


O carro de boi cantando
o meu pai com seu peão,
- um na frente outro tocando,
cada um com seu ferrão.
O carro cheio de milho,
rasgando parte do trilho,
deixando marca no chão.

Em cima daquela carga,
um velho jacá vazio,
- sinal da batalha amarga,
em tantas noites de frio,
em tantos dias de sol,
em cada doce arrebol,
contornando aquele rio.

Chegando em casa bem tarde,
- o milho já nos porões,
mas o canto ainda arde
na cabeça dos peões.
Meu pai, “carreiro” da vida,
sabe a dor de uma subida
fazendo gemer canções.

No outro dia a vistoria
- ainda na madrugada
preparando a cantoria
para mais uma empreitada.
Checando em baixo, a emborgueira,
junto a ela a cantadeira
que vai dar o tom na estrada.

A junta de bois da guia,
- já presos ao cabeçalho,
mostrando que nasce o dia
pra arrancar do chão cascalho.
Ferrão de carrapateiro,
bem em riste o seu ponteiro
cutuca para o trabalho.

De novo meu pai na frente
desbravando a lama suja.
A boiada na corrente,
- sob a mira de Azambuja,
do trançado de taquara
cutucava com a vara
no “depenar da coruja”.

Nossa vida era uma escola
feita de sonho e canção,
em nosso peito ainda rola
a cantiga da emoção...
O velho carro de boi
- eu não sei pra onde foi,
questiona meu coração!


Dáguima Verônica de Oliveira

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