A mim mesma eu inventei
jogando flores na estrada,
meus espinhos eu quebrei
dentro da carne sangrada.
O palhaço que eu pintava
para o mundo gargalhou,
pra mim mesma ele chorava,
foi assim que me castrou.
Bem em frente do meu nada
questionei os meus valores,
foram feitos pra fachada,
pra comprar os meus amores.
Os amigos que eu guinchei
com o laço da insistência,
quando vi eu sufoquei
com a malha da carência.
Não quero viver em vão
quero o avesso dessa malha,
tricotar com minha mão
o reverso da medalha.
Ser eu mesma assim na bruta,
desprovida de pintura,
sem ter tempo e na labuta,
sem sorriso e sem frescura.
Ser eu mesma sem dinheiro,
sem estudo e sem diploma,
batalhando o dia inteiro,
mas de fora da redoma.
Quem quiser ser meu amigo
calce o meu velho sapato ,
respeite meu jeito antigo
e seja amigo de fato.
Nas horas do meu vazio
faço em mim uma lavagem,
meu avesso entra no cio
pra parir minha coragem.
Dáguima Verônica de Oliveira